O que se poderia esperar de um filme cujo título original é Tulitikkutehtann Tytto? Estranheza, claro. E é tudo o que encontramos, à primeira vista, ao assistirmos ao primoroso (na tradução para o português) A Garota da Fábrica de Caixa de Fósforos. Trata-se, para quem ainda não viu, de um filme finlandês recém-lançado em DVD, do diretor Aki Kaurismaki - o mesmo do excelente O Homem sem Passado. A Garota da Fábrica é estranho por abordar a frieza e a indiferença nas relações humanas na periferia de Helsinque. É um filme duro, seco, com pouquíssimos diálogos. Em pouco mais de uma hora, Kaurismaki narra a história de uma operária de uma fábrica de caixas de fósforos, cuja rotina das máquinas faz de sua vida uma eterna repetição de dias indiferentes.
A garota (não há nomes no filme) garante o sustento dos pais com seu mísero salário. A mãe, uma dona de casa cansada e maltrapilha; o pai, desempregado (ou aposentado), passa os dias fumando num sofá velho, vendo TV. Eles são exigentes; aguardam ansiosamente o dinheiro do trabalho da filha. Ela é um “objeto produtivo” dentro de casa.
Cansada da rotina, a garota comete uma “desmedida” ao sair para tomar um drinque em um pub decadente, onde é flertada por um empresário que a convida para dançar. Os dois vivem um rápido e compulsivo romance naquela noite.
Esperançosa por uma guinada na vida, a garota apresenta o empresário aos pais, que o recebem friamente. Um possível casamento poderia livrá-la da arrogância do pai, talvez um emprego melhor, uma casa mais confortável, uma vida digna. Mas, em um jantar a dois em um restaurante requintado, num clima aparentemente romântico, o empresário a decepciona: “se acredita que há algo entre nós dois, está muito enganada. Nada me encanta tão pouco quanto o seu amor. Agora, deixe-me”. Ela sai imediatamente da mesa, na primeira garfada.
Quando tudo parecia que seria apenas uma desilusão, a garota descobre que está grávida do empresário. Resolve, então, escrever-lhe uma carta pedindo apoio. Dias depois, ela recebe um envelope como resposta: um cheque para bancar um aborto.
A Garota da Fábrica é um retrato de um país cujo clima frio e cinzento parece se interiorizar nas pessoas. O filme mostra o lado melancólico de Helsinque: casas pequenas (quase favelas); na mesa, pão duro, sopa e água; televisores antigos. Não há humor.
O diretor Aki Kaurismaki tem a simplicidade e os silêncios de um Jim Jarmusch. Um pouco de Kieslowski, talvez. Seus filmes retratam o pálido cotidiano de Helsinque de maneira poética. Parte desta secura é atribuída à ausência de trilha sonora em seus filmes. A Garota da Fábrica é um drama impiedoso, sem concessões. O filme explora os limites humanos diante de sucessivas decepções. Quais seriam as conseqüências de uma cena em que a garota entra em uma loja e compra veneno para ratos?
Título: A Garota da Fábrica de Caixa de Fósforos
Direção: Aki Kaurismaki
País: Finlândia / Suécia
Ano: 1990
não vi esse filme ainda, mas pelo q escreveu paraece uma história comum mas contada de uma forma original
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=_pb_BPNRaos
ExcluirLívia,
ResponderExcluirAgradeço o seu comentário. É isso aí. O que vale é a "assinatura" do autor/diretor; mesmo quando a história é simples.
Muita coisa errada nessa "crítica". Conselho ao comentarista, reveja o filme.
ResponderExcluirO filme é muuuito bom!
ResponderExcluirA menina tem nome: Iris. Ela assina um bilhete e uma carta. É bom rever o filme. Ok?
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