11 de jan. de 2011

O vermelho e o negro

A vida moderna é um mosaico. Temos dificuldade em organizar as informações com certa coerência. Pulamos de galho em galho em busca de mais e mais conteúdo. Trabalhar de forma organizada a quantidade de referências atualmente torna-se tarefa essencial. Stendhal construiu com maestria, em “O vermelho e o negro”, um cenário monumental, lidando com várias informações, de forma a nos causar inveja. Julien Sorel, seu personagem principal envolve-se com duas mulheres, em momentos distintos. Entre os dois amores, interna-se em um seminário. O livro pode ser dividido nessas três fases.

Mas o que conta não é a simples narrativa desse aventureiro que, como na história de Romeu e Julieta, escalava as janelas para beijar a mulher amada. O que torna o romance um clássico é justamente a habilidade de Stendhal em construir os cenários histórico, social e psicológico. Após ler o livro, tem-se a cristalina noção das relações de poder na nobreza, os desvarios políticos e as artimanhas para conseguir manter a “estirpe familiar”. Bem como as dificuldades e as barreiras impostas a quem, “de baixo” (como Julien), tenta se adentrar na burguesia, “promover-se” na vida. Havia um muro intransponível entre a plebe e a aristocracia. Para que recorrer aos livros de história para entender a sociedade francesa?

Stendhal, lá no século 17, trabalhava de forma invejável um mosaico que contemplava a construção de personagens como Julien, Sra de Rénal e Mathilde (suas duas amantes), um par de padrecos e bispos, os jogos de interesse e os costumes de uma burguesia abastada que não fazia nada além de comer do melhor, assistir a óperas e manipular tudo para manter sua riqueza.

Se o leitor atual está acostumado a ler romances rasos, pequenos e pueris, “O vermelho e o negro” é um desafio e ao mesmo tempo um norteador. Uma Bíblia da literatura ocidental.