7 de mai. de 2009

O Kindle e o Conhecimento













Surgiu nesta semana um novo brinquedinho tecnológico – agora direcionado aos leitores. O Kindle DX, espécie de e-book lançado pela Amazon, com capacidade de memória ampliada (em relação ao seu antecessor) para cerca de 3.000 livros. Vem com uma novidade: uma tela maior, que permite uma melhor leitura de jornais.


Sem entrar muito no mérito do fim ou não do livro, o Kindle DX é realmente uma ferramenta que vai mexer com o mercado de livros no mundo. Quem não gostaria de carregar uma biblioteca respeitável em um aparelhinho? A favor do Kindle ainda há a questão ecológica - economia de papel. Difícil resistir à possibilidade de levar debaixo do braço o Em busca do Tempo Perdido (Proust), A Montanha Mágica (Thomas Mann), O Homem sem Qualidades (Musil), Ulisses (Joyce) ou A Comédia Humana (Balzac). Livros de peso – no sentido figurado e literal. A invenção é boa, apesar de ainda ser difícil imaginar a leitura de um Kant na tela.


Toda evolução tecnológica, fora os supérfluos mercadológicos, é bem-vinda. Mas há uma questão: até que ponto o surgimento do Kindle DX (e do e-book) vai influenciar o conhecimento (ou a cultura)? A facilidade em se baixar livros em segundos – ou de ler jornais na tela – incrementará o acesso ao conhecimento? Ou melhor: produziremos mais conhecimento? Evoluiremos (mais) culturalmente? Não há como analisar o avanço do aparato tecnológico sem analisar o comportamento dos leitores nessa onda virtual.

Pesquisas apontam a queda das tiragens dos principais jornais do mundo, a cada ano. Será que o leitor de jornal impresso está migrando para o jornal virtual? Matérias na imprensa revelam um vertiginoso crescimento dos blogs – e da leitura destes. Há, no entanto, um hiato nesta equação, se considerarmos que os jornais não disponibilizam o conteúdo integral da edição impressa em seus sites. Ou há uma fuga de leitores de jornais impressos para lugar nenhum ou estão migrando para blogs de colunistas ou de amigos; para diários online, etc.


A proliferação de blogs é interessante pela possibilidade de se trocar ideias e de se criar grupos de discussão. Mas corre-se o risco de esses grupos ficarem sempre olhando
para o próprio umbigo e ignorarem o mundo externo, ou seja, blogueiro lê blogueiro e não lê jornais. É apenas uma especulação, sem comprovação estatística. É inegável que a leitura de jornais, (boas) revistas e textos analíticos são imprescindíveis para a formação de um mínimo de senso crítico. Se o Kindle DX reaquecer a leitura de jornais diários, ótimo!


O mesmo vale para os livros que serão armazenados no aparelho. Se os leitores do livro-objeto migrarem para o
Kindle, será um avanço. Uma dúvida: a evolução tecnológica acompanha o interesse do leitor, em termos de conteúdo? Haverá demanda literária do leitor comum - fora da academia - para tanto livro armazenado? Teria o leitor do novo século interesse em ler Dom Quixote (no papel ou no Kindle), se ele está se habituando a ler a conta-gotas, um blog/site aqui outro ali? O melhor indício de que a informação está sendo consumida em pílulas, veloz e superficialmente, é o sucesso do Twitter.


É possível que a ansiedade e a velocidade com que se passa de um blog/site a outro possa causar impaciência no internauta para encarar textos analíticos que, grosso modo, resultem em inteligência? Essa tese foi levantada pelo economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, em recente entrevista no projeto
Sempre um Papo (pode ser conferida no site), quando lançou o seu Livro das Citações. Não há comprovação científica, mas se, principalmente os jovens em formação, estiverem picotando o conhecimento, estamos diante de uma catástrofe cultural futura. Textos analíticos requerem tempo e dedicação. Os jovens podem estar deixando passar o melhor momento de sua moldagem intelectual se se afastarem de textos analíticos imprescindíveis à inteligência.


O
Kindle DX é uma ótima ferramenta de disseminação cultural, mas pode estar evoluindo inversamente proporcional ao interesse de seu próprio conteúdo. Uma última provocação, agora contra o Kindle: perderemos aquelas leituras instigadas pelas charmosas lombadas dos livros nas nossas estantes? Haverá lugar para as lombadas no Kindle?

22 comentários:

  1. Legal o texto, Wellington. Agora, para mim, esse Kindle é mesmo um brinquedo. Não troco meus livros desarrumados e espalhados por todo canto do meu quarto nem por 10 Kindles.

    ResponderExcluir
  2. Valeu, Rafael!!

    Também não abro mão dos meus livros. O livro ainda é muito atual. Umberto Eco disse isso em uma coluna na revista Entrelivros. Mas acho que ele vai desaparecer mesmo. Nós, que já temos os nossos, estamos "protegidos".
    Agradeço a visita!
    Abraço,
    w.m.carvalho

    ResponderExcluir
  3. Sabe o que eu acho? Que quem lê no kindle lê no papel... não é uma invenção que vai popularizar o conhecimento, mas apenas torná-lo mais tecnológico. Ah porque eu jamais perderei o prazer de ler bukowski com páginas amareladas pelo tempo! Nem de ir a uma livraria e escolher aquele livro que há tempos desejo!
    Não que eu não vá aderir nunca a moda, pelo contrário... acho que sou uma garota até muy tecnológica!

    ResponderExcluir
  4. seu único pecado foi dizer que tem prazer em ler Bukowski...

    hehehe

    ResponderExcluir
  5. Acho uma idéia válida. Certamente impulsionará o acesso as obras digitais, que não agradam a todos justamente pelo cansaço à vista que a tela do computador causa.

    Eu, por exemplo, gosto de baixar o livro na internet sempre que possível, mas para depois comprar. Não há nada que se compare aquela estante do quarto cheia de livros, nem ao folhear das páginas...

    p.s: acho o velho Buk uma boa leitura...

    ResponderExcluir
  6. admito que sou um provocador.

    ResponderExcluir
  7. Com ou sem Bukowski, agradeço a visita de todos. Não conheço muito do Buk, mas me diverti com o escracho que era a vida do escritor, representado no filme "Factotum".
    Abraços,

    w.m.carvalho

    ResponderExcluir
  8. No caso do Bukowski, Well, não fiz como o Bill Clinton que fumou mas não tragou. Eu realmente li e não gostei... rsrsrs

    ResponderExcluir
  9. Factótum foi o livro mais divertido que li no ano passado Wellington. Foi a primeira obra que li dele e gostei pra valer, é claro que vez ou outra ele solta umas tiras arrogantes e tal, mas pra mim isso é o de menos. Comprei quase todos os livros dele ano passado rs

    ResponderExcluir
  10. Então não deixe, Chapeleiro, de assistir ao filme. O personagem não pensa nem um pouco no dia de amanhã. Só vive o agora, não interfere no destino. É divertido.
    Confesso que li pouco dessa geração beat. Entendo o que o Jason diz, creio. Os livros dessa geração retratam mais um estilo de vida (despojado, constestador dos costumes) e atitude do que algo reflexivo, filosófico ou psicológico. Mas eles influenciaram muita gente boa, como Bob Dylan, por exemplo.

    Abração,
    w.m.carvalho

    ResponderExcluir
  11. Leio blogs de variados temas e procuro material para base de estudos.
    Tenho encontrado pela caracteristica de expressão, perfis interessantes. Um em especifico neste blog me chamou a atenção pelos comentários que fez.
    Visitei o blog "NÃO HÁ PENSAMENTO RARO", do jovem Jasão para ter uma melhor avaliação.
    Alguns "estudiosos" da literatura imterpretam uma leitura como estudo frio ou quando não, tentam encontrar seu próprio momento no que está lendo. Surge então as criticas, discordando veemente de quem tenha gostado demonstrando um ego parasita, uma "superioridade" critica e desnecessária.
    É evidente o bombardeio de opiniões tendenciosas em qualquer ambiente. O segredo do sucesso é banir o egocentrismo, defender o ponto de vista, OUVIR verdadeiramente as opiniões adversas, discutir idéias, avaliar e agregar conhecimento.
    Encerrando, quero parabenizar a todos pela interação nos assuntos deste blog e ao jovem Wellington Machado que conduz com habilidade e diplomacia as opiniões e discursões em seu blog.

    Abraço a todos

    J.P

    ResponderExcluir
  12. J.P

    Agradeço seu cordial comentário. E obrigado pela visita. (E pelo "jovem" também.rss)

    abraço,
    w.m.carvalho

    ResponderExcluir
  13. O JP tá me criticando? Entendi pouco do que ele escreveu...

    ResponderExcluir
  14. hehehe... continuo um provocador! Vamos lá então:

    JP, meu filho... eu jamais me posicionei como superior a algo ou alguém, porque simplesmente não acredito em hierarquias.

    Não acreditar em hierarquias não quer, no entanto, dizer que não acredito em movimentos: movimentos há, e muitos - de cima para baixo, baixo pra cima, da esquerda pro centro (rsrsrs...piadinha ineitável!), etc.

    quando provoco, provoco pra gerar movimento. Pra movimentar o pensamento. a escola, a crítica, a arte precisam disso. É de movimento que são feitos os blogs.

    Acho que você deve ter visto que tenho formação em literatura e ficou ressentido - acha que me sinto superior por ter essa formação.

    Cara, conheço gente que é capaz de interpretar textos literários com uma lucidez fantástica, e sequer são formados na área. Em suma - um título é um título. Não acho que minhas leituras sejam melhore tampouco piores do que as de outrem. Mas são somente as minhas leituras. E leio tudo deste modo - cinema, música, a vida. Sem distinção.

    Outrem gostar ou não - tanto faz. É só uma questão de filiação - ou não.

    ResponderExcluir
  15. Jovem Jasão,
    Preocupou me o comentário acima feito.
    A observação ao seu ego foi dada ao fato de ser evidente a preponderância eum que o mesmo se apresenta em suas citações.
    Ao longo de minha carreira venho trabalhando e colaborando com o desenvolvimento psicológico comportamental de diferentes formações e culturas ( Advogados, Médicos, Políticos, Professores entre outros).
    A leitura tem sido uma grande aliada no desenvolvimento de meus trabalhos, não a obra em si, mas as informações que são expostas quando é livremente interpretada.
    Após seu comentário observei sua formação e foi o que me fez preocupar um pouco mais por se tratar de um profissional que participa em alguns momentos, diretamente na formação dos estudantes.
    Isso posto fasso lhe algumas observações:
    Avalie as observações e comentários que lhe são feitos buscando entender a essencia de sua origem ( a carne está sempre em baixo do angú! Risos) para melhor compreender o interlocutor.
    Procure conduzir e orientar sem contaminar ou aliciar ( Lembre se que o angú não está no seu prato).
    Não faça da liderança uma necessidade pessoal.
    Procure conhecer, entender e trabalhar o seu ego.
    Lembre se:
    Conhecer é uma arte, estudar faz parte.
    Estamos a todo o momento agregando conhecimento.
    E acredite as hierarquias são necessárias.
    espero que consiga compreeder e explorar o melhor resultado possível do exposto.
    Um grande abraço.

    J.P

    ResponderExcluir
  16. Jovem wellington,
    Hoje me ocupei de um bom tempo lendo seu blog e os comentários feitos. Mantenho minha ultima opinião.
    Parabéns a todos.

    Um grande abraço.

    J.P

    ResponderExcluir
  17. JP,

    pra um cara tão incomodado com o meu ego, você tá preocupado demais em dar receitas para que eu aja de acordo com o que VOCÊ acha sobre mim, ou sobre os meus textos. Eu, hein! Cai fora, camará! O mundo já está devidamente repleto de micro-fascismos - não venha querer me enquadrar, tampouco enquadrar os meus textos.

    Um blog é a manifestação daquilo que o autor dele quiser - não gostou, não leia, bicho!

    ResponderExcluir
  18. P.S.: você escreve mal pra caralho!

    ResponderExcluir
  19. Obs.: o comentário acima fui eu que escrevi, pro tal JP.

    ResponderExcluir
  20. O Kindle é o começo de uma verdadeira revolução. O que ocorreu com o mp3 que substituiu o CD ocorrerá com os livros. Se a tela fosse flexível e sensível ao toque (itouch) o que ocorrerá num futuro próximo...a humanidade vai mudar a forma de se relacionar com o livro. Alguém imaginou que uma pessoa vai portar uma biblioteca inteira em um aparelho? E um aluno de faculdade que não precisará levar o peso dos livros para aula...só falta o livro eletrônico permitir fazer anotações (resenhas ao lado). Alguém sabia que o Direito sobreviveu com anotações ao lado do principal? O Corpus Juris Civile (código civil de Roma Antiga) foi interpretado pelo sistema romano-germânico com anotações na lingua nativa traduzindo e interpretando o latim...e assim o corpus e sobretudo o Direito como um todo chegou a nossa época....
    Deixe a China começar a fabricar e-reader...para cair o preço e a tela sensível ao toque permitir o leitor "virar a página"...preço baixo vs. praticidade...
    Outra questão: a nova geração acostumada a e-mail, msn etc não aguenta livros tradicionais...o e-reader vai permitir uma maior interatidade. Imagine ler um Livro sobre Segunda Guerra Mundial em que ao clicar em uma ilustração a pequenos vídeos mostrando o que o trecho tenta mostrar...

    ResponderExcluir
  21. Caro amigo,
    Concordo com tudo o que você disse e não tenho resistência a novas tecnologias - a não ser quando não acrescentam absolutamente nada. O Kindle é uma ótima invenção. O que eu discuto - na verdade levanto mais questões do que proponho algo - é como as pessoas trabalham essas facilidades, se não está havendo perda de interesse pelo conteúdo, se os novos suportes não estão levando mais importância do que aquilo que está dentro deles, etc.
    Suspeito que a enxurrada de informações disponíveis pelas novas plataformas esteja formando um "mosaico superficial", uma pressa, um ritmo frenético (em tudo), dificultando a concentração e dedicação ao estudo de um autor ou determinado tema. Prática esta fundamental para se chegar ao conhecimento.
    Acho ótimo a interatividade a que você se refere. Só não concordo com o excesso de imagens, que não podem levar mais importância do que o próprio conteúdo do texto.

    Agradeço o seu comentário.

    Abraço,
    wellington

    ResponderExcluir