7 de dez. de 2010

Você vai conhecer o homem dos seus sonhos

















Em “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”, Woody Allen exagera no número de adultérios. O que era apenas um mote em vários de seus filmes anteriores, torna-se um artifício caricatural neste último. Pai, mãe, filha e genro envolvem-se com outras pessoas, cada um à sua maneira, com relacionamentos bem peculiares e um tanto exóticos. O pai se apaixona por uma prostituta que vai corroer sua riqueza. O genro, um escritor fracassado, envolve-se com a vizinha violonista. A filha tenta um flerte com o dono de uma galeria de arte. E a mãe, influenciada por uma cartomante picareta, acaba conseguindo um bom parceiro. Conciliar essa quantidade de histórias pessoais faz do filme um mosaico um tanto difícil de ser trabalhado, o que prejudica o desenrolar da trama. Tudo isso faz do filme um tanto ágil e obrigatoriamente superficial. Mas Woody não se aperta. De novo os diálogos são o ponto forte do diretor e o melhor do filme fica pro final, na definição dos casais, quando ocorrem situações inéditas na filmografia do diretor: desilusão, apostas frustradas, arrependimento. “Você vai conhecer...” é bem inferior ao último filme do diretor (Tudo pode dar certo), mas diverte com inteligência.

1 de dez. de 2010

Saramago Pop Star












 



José Saramago quase morreu antes de morrer. Quando muitos tinham o sumiço do escritor como uma pneumonia controlável, na verdade ele estava agonizando. Mal se ouvia sua voz. Esse difícil momento, ocorrido três anos antes de sua partida definitiva, está retratado no documentário “José e Pilar”, em cartaz nos cinemas. O filme não é um documentário convencional, linear, que aborda a infância, os momentos difíceis pelos quais passou o escritor, a sua vida regrada. O maior mérito do filme é fazer jus ao nome, ou seja, abordar de forma equilibrada a relação do escritor com sua mulher, a jornalista espanhola Pilar.

Saramago teria morrido antes de morrer se não fosse sua esposa. Pilar passou a organizar com “mão de ferro” a vida “administrativa” do escritor, principalmente após a premiação do Nobel. Ela lia, separava e respondia (junto com o escritor) as cerca de 200 cartas que recebiam em casa, na ilha de Lanzarote. Ela também passou a organizar a agenda estafante do escritor, principalmente depois de sua “quase-morte”, antes de morrer.

Para muitos Saramago era uma figura difícil, mau humorada e arrogante (é difícil responder às mesmas perguntas em todo lugar que se vai, convenhamos). Mas o documentário mostra exatamente o contrário: um homem solícito, que relutava em recusar um convite para visitar algum país. Em algumas palestras Saramago chegava a autografar, com surpreendente paciência, mais de mil exemplares. Não foi nada intencional, mas Saramago se tornou “pop star”. Devido a isso, por pouco não morreu antes de morrer.